quinta-feira, janeiro 31, 2008

Cuidado com inovações, porque a roda já tem mesmo patente

Fico muito desconfiada de pessoas e/ou instituições que, sempre que fazem qualquer coisinha da qual pura e simplesmente desconhecem os percursores se auto-nomeiam como pioneiros e, de preferência, os seus anúncios sobre a suposta inovação são propalados para uma qualquer plateia de comunicação social, menos cuidadosa e deslumbrada.
Novidades velhas têm o condão de me irritarem, sobretudo, quando se pretende desvanecer protagonismos alheios pouco convenientes....
Esta semana, o senhor Paulo Ferrão, identificado como director português do programa MIT-Portugal, tem a distinta lata de dizer publicamente, durante um entrevista concedida à RTP2 que "a atribuição de diplomas conjuntos é uma novidade em Portugal"- confirmar num vídeo publicado pelo Blog de Campus.

Dava-lhe jeito ser "proprietário" dessa inovação, senhor Paulo Ferrão? Que pena! Atrasou-se!

Essa dos diplomas conjuntos pode ser uma novidade para algumas pessoas mas, em Portugal, não é! Antes pelo contrário, é já velhíssima (12 anos)!
Essa novidade foi de facto uma novidade, em Portugal e na Europa, em 1996, quando se iniciaram negociações para o curso (Europeu) de Informática do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, que veio a ter os seus primeiros alunos formalmente inscritos, salvo erro no ano 2005/2006, tais foram os atropelos oriundos de todos os azimutes, para a institucionalização do curso de formação inicial.
Mãe de todos os azares, Senhor Paulo Ferrão, trata-se de uma instituição politécnica ....

Caro senhor Paulo Ferrão da próxima vez que quiser anunciar novidades deste teor, informe-se previamente, na DGES, no MCTES ou nos registos do GPAERI, ex-OCES, ou estas possibilidades de se documentar, devidamente, sobre estes assuntos, para o Senhor são também novidades?

E já agora, antes que haja mais mais outra qualquer tentação nacional, à cautela, e para os devidos efeitos, divulgo aqui que a patente da roda é Australiana também foi já publicada em 2 de Agosto de 2001.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Decapagem de percentagens

Hoje, também no Jornal Público, publica-se uma boa notícia: "Para elucidar sobre as saídas profissionais
Governo vai divulgar lista de empregabilidade dos cursos
".
Não vou voltar a referir a confusão que por aí grassa sobre o conceito de empregabilidade, mas penso ser muitíssimo importante que se publiquem, regularmente, informações sobre a dinâmica de emprego, emprego não!.. trabalhos disponíveis, para os formandos da educação superior.
Pode ser que agora se consiga iniciar a decapagem das percentagens.
Se as informações que irão disponibilizar não resultarem em filtragens distorcidas* - porque, com a necessidade de ascendermos a melhores posicionamentos nos "rankings" estatísticos internacionais, nunca se sabe, divulgam-se percentagens de tudo...- podem ser, efectivamente, muito úteis. Fiquemos, então, atentos.
_______
* Exemplos de formações com "empregos" supérfluos: as que só conduzem a empregos nas próprias instituições em que se lecionam, ou em empresas pseudo privadas financiadas/subsidiadas pelo orçamento de estado, como agora também se cá usam..., etc., etc.,...

Iliteracia básica?

Fonte da imagem: aqui

_______________
Hoje, no Jornal Público, João Pedro Pereira assina um artigo de conteúdo alarmante intitulado: "Universidades concentram-se nas competências tecnológicas". "Empresas de tecnologia com falta de profissionais que saibam escrever", pelo qual descreve, sumariamente, alguns extractos de um estudo realizado pela Associação Nacional de Empresas de Tecnologia de Informação e Electrónica (ANETIE).


Pelos vistos, "as instituições de ensino falham em oferecer formação naquilo a que o estudo chama "soft skills": domínio da língua, técnicas de marketing e negociação ou pensamento crítico, por exemplo."
.....
Para finalizar, diz-se no artigo: O responsável criticou, contudo, as instituições de ensino que não oferecem uma formação adequada durante o primeiro ciclo de ensino e que procuram fazer com que os alunos se vejam forçados a enveredar pelo mestrado.

Fernando Fernández (alguém da ANETIE) acrescentou ainda haver "pessoas que saem de boas universidades sem saber fazer nada de prático".
.....
Se corresponder à realidade, é bastante preocupante, tanto mais que não sei se, entre nós, na generalidade das instituições de educação superior, apenas torcemos questões importantíssimas de Bolonha, ou se o Processo correspondente foi, simplesmente, amarrotado....

sábado, janeiro 26, 2008

Mexericos - diz que não me disse....

Fonte da imagem "Gossip": SpacePotato's photostream.

É assim:
Uma respeitabilíssima penca de 9 avaliadores internacionais de centros de investigação, daqueles da FCT, fez ontem, uma avaliação in loco a um centro de investigação de uma determinada área científica. E não é que - durante todo processo, que se prolongou por um dia inteiro, foram extremamente objectivos, corteses, rigorosos, atentos, precisos, francos e preparadíssimos - trabalhinho de casa (demasidamente) bem feito - e, dois dos elementos do team são também detentores de currículos pessoais, passíveis de serem e deverem ser lidos de joelhos....
Pois é, comportaram-se como uma verdadeira equipa de avaliação que, por sua vez, mereceria neste seu primeiro round, um quase, quase 20, na escala de Zero a 20, em qualquer lado deste planeta - quero dizer com isto, nem parecia ter sido coisa organizada pela FCT ou, vai-se a ver, esta enganou-se.... mas, nem isso,... é que a referida equipa fez-se acompanhar, por uma colaboradora da FCT, igualmente, atenciosíssima, prestável, competente e muitíssimo profissional.
Quem não está acostumado, estranha, não é mesmo?
Os meus caros e raros leitores não acham que isto que lhes contei seja possível, pois não?
Também eu!
Mas, acreditem-me, foi mesmo verdade! Ou isso, ou a referida equipa hipnotizou, colectivamente, para cima de uma centena e tal de pessoas.
Fiquem atentos, deve valer a pena sabermos os desenvolvimentos das cenas dos próximos capítulos. Estas, porém, nunca terão lugar antes de Junho.

terça-feira, janeiro 22, 2008

crying times

Fonte da imagem:
Jasmina Vuga's photos
____________________

Definitivamente, ando a observar o mundo da educação superior nacional, com outros olhos...
Tenho-me achado a concordar com os gestores de topo. Isto pode lá ser?
Pode sim! Querem ver?
Agora mesmo, por exemplo, acabei de ler no Blog de Campus, a seguinte notícia de ontem: "O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Fernando Seabra Santos, considera "infelizes" as declarações que Mariano Gago proferiu na semana passada, nas quais o ministro argumenta que "as universidades que têm muitas interrogações não estão naturalmente em condições de se autogerir de uma forma tão avançada como é prevista" no modelo de fundação." ??!!??!
E, acreditam os meus caros e raros leitores, que quase dei toda a razão ao Senhor Presidente do CRUP?
Disse quase, só não dei toda a razão ao Senhor Presidente do CRUP porque, a meu ver, não são as declarações do Senhor Ministro ou mesmo o Senhor Ministro que foram ou são infelizes....
Ainda não estava refeita desta notícia, e tropecei logo noutra, desta feita, no Diario Económico online, Edição Impressa, com esta magnífica declaração: Governo pede para fecharem cursos. ??!!??! Adiante, ainda se refere: "As sugestões que o Ministério de Mariano Gago faz às Universidades com mais dificuldades orçamentais passam pelo encerramento de cursos, suspensão de contratações de professores e congelamento das licenças sabáticas". ??!!??!

Fiquei na dúvida, por isso, fui reler a LEI ORGÂNICA DO MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR, Decreto-Lei n.º 214/2006 de 27 de Outubro. Artigo 14.º.
"Direcção-Geral do Ensino Superior
1 - A Direcção-Geral do Ensino Superior, abreviadamente designada por DGES, tem por missão assegurar a concepção, execução e coordenação das políticas que, no domínio do ensino superior, cabem ao MCTES.
2 - A DGES prossegue as seguintes atribuições:
a) Apoiar a definição das políticas para o ensino superior, nomeadamente nas vertentes de definição da rede, do acesso e da acção social;
b) Preparar e executar, sem prejuízo da autonomia dos estabelecimentos de ensino superior,

as decisões que cumpre ao MCTES tomar no que respeita àquelas instituições;
.....
g) Proceder ao registo dos cursos ministrados no ensino superior;
......
_____________



Mas afinal quem e a que nível se precisa decidir sobre que cursos podem ou não funcionar?
Como se devem gerir os Recursos Humanos das Universidades?
E, já agora, por favor, relembrem-me lá, aonde está publicado o tal "modelo" da fundação?

Não Senhor Presidente do CRUP, não são de facto infelizes nem as declarações do ministro ou sequer o próprio, somos nós mesmos, os cidadãos comuns deste país, é que parece que temos um sério infortúnio com o sector tutelado, a poder de "pedidos" e de "sugestões", desobrigando-se a assumir, como deveria, qualquer papel regulador, papel este essencial mas, cirurgica e estrategicamente, removido da actual Lei Orgânica.
........
Penso sentir-me tal como diz um meu vizinho: ...pois é, (a)mandam cá para fora uns bitaites muito mal acoxambrados, e os outros que se amanhem....

domingo, janeiro 20, 2008

Pfff!!!!....Ambição muito reduzida...

Um meu parente por afinidade trabalhou durante a vida inteira, para uma multinacional, na qual o salário de cada ano, era substancialmente afectado pelo cumprimento do traçado de um plano estratégico, com identificação muito precisa de metas, e objectivos bem definidos, que ele, via de regra, cumpria com empenho e capricho, enquanto pessoa e como líder da sua equipa.
Num determinado ano, esse meu parente superou várias vezes os objectivos que havia traçado e, por isso, aguardava com grande expectativa pessoal a sua recompensa financeira e, no entanto, não foi agraciado pelo chorudo prémio monetário que parecia garantido.
Ele ficou em choque e, para vos falar a verdade, na ocasião, também pensei que ele tinha sido muito injustiçado, mas quando lhe perguntei a causa do sucedido, a sua resposta foi:
A razão
foi que, através dos meus objectivos iniciais, tão largamente ultrapassados, só revelei "ausência de ambição".... Claro que, escusado será dizer, que a precisão do cumprimento de todos os seus projectos profissionais posteriores se tornou milimétrica, e .... porque não dizer? Valeu-lhe bastante a pena!
Desde aí, sempre que ocorre um "gap" entre os objectivos e as realizações em qualquer estratégia, me vem à memória a expressão, dolorosamente, desapontada desse meu familiar, e a minha constatação de que havia fundamento para a decisão penalizadora do CEO da empresa aonde ele prestou, "abnegadamente", e por tantos anos, os seus brilhantes serviços.
Esclareço que, desde aí, também passei a pensar "cobras e lagartos" sempre que alguém se distancia, exageradamente, entre os objectivos e as realizações, e considero imperdoáveis falhas desse teor, sobretudo, quando subscritas por aqueles políticos, que são...., como dizer?.... "políticos"?.

Contei-vos este episódio pessoal porque, anteontem, fomos oficialmente informados sobre a cerimónia de fundação do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), que teve honras de estado, e até o direito a uma citação de Feynman.
Tal como a maioria, se não, a totalidade dos nacional-residentes, ficaría extasiada se o evento não revelasse uma lamentável deficiência de ambição política.
.
.
.
.
Pergunto eu, que sou das raríssimas pessoas portuguesas leigas nessa matéria:
"Porque carga de água é que haveríamos de de ter fundado um INL (Instituto Internacional Ibérico de Nanotecnologia) se temos ao nosso dispor uma gama infinita de escolha nas escalas de tamanho que, passando pela possibilidade real de ser ter fundado uma instituição dedicada à Peta-tecnologia, pode variar do ZERO ao Googol? (ver Tabela)
_____________

Termino, a condizer e persistindo neste tema sobre tamanhos de partículas, com uma citação de Paul Dirac - só me interessa o que pensa Deus, tudo o mais são detalhes.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

'Tá gelado! Tá frio! 'Tá morno! 'Tá a aquecer! 'Tá quente! 'Tá a pegar fogo! !!!ACHOU!!!

Como tenho andado por outros fusos horários, não esperava, vir por aqui e, ainda por cima, para defender alguns gestores de topo das instituições públicas nacionais de educação superior, mas tem alturas nas nossas vidas, em que não dá para segurar o que se pensa, mesmo tendo ou não condições de o fazer - e, hoje, é dia!
Quem quisesse, poderia ter lido, aqui, esta informação:
"Ministro não vê condições.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, considerou, ontem, que as universidades que têm dúvidas quanto à passagem para fundação "naturalmente não estão em condições de se autogerir".
...............
e, mais à frente, a notícia relata-nos as seguintes palavras do mesmo político:
"Não é pouco, até é mais do que eu esperaria nesta fase, porque as condições para a possibilidade da transformação do estatuto jurídico de uma universidade em fundação são exigências muito acrescidas". Realmente....!!!!???
______________
Ora bem, há variadíssimos requisitos, para "istos" e para "aquilos" que, nem a fórceps, se conseguem extrair do RJIES e um deles é, exactamente, aonde se poderão obter informações concrectas, sobre as tais exigências "muito acrescidas", que o ministro diz que existem, para o efeito das universidades públicas poderem passar a fundações "públicas de direito privado", por muito apelativo que possa ser o conceito, e de facto é.
Cá, para mim, as Comissões Estatutárias das instituições interessadas talvez precisassem de encontrar um causidíaco, ou mais, renomados, respeitáveis e ousadíssimos, que se prestassem, mesmo que por alto, a encontrar o suporte legal nacional do Regime Jurídico dessas fundações e, depois, também a alinhavar - com principio, meio e fim - uns quantos dizeres coerentes, condizentes, inovadores e imaginativos, para plasmar nos estatutos institucionais pertinentes.
Assim, de facto, essa "coisa" das fundações públicas de direito privado parece ser um convite/desafio para jogos de cabra cega... e, além disso, os gestores de topo da nossa educação superior talvez já sejam um tanto crescidinhos...
Não desanimem... Há muito quem acerte, em cheio, no "Euromilhões".... por puro acaso.

terça-feira, janeiro 08, 2008

A ciência e tecnologia vistas de um outro angulo

Hoje, é só para divulgar, aos meus caros e raros leitores, duas publicações interessantes, que achei no sítio do GPEARI (ex OCES):

1ª - Dotações Orçamentais para C&T e I&D - 2008

2ª - "recursos humanos e financeiros afectos a actividades de investigação científica e desenvolvimento tecnológico (I&D) em Portugal para os quatro sectores de execução: Empresas, Estado, Ensino Superior e Instituições Privadas sem Fins Lucrativos (IPSFL)":

Sumários Estatísticos IPCTN.05 Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2005 [edição revista]
ou aqui (ficheiros excel)

Apenas um levíssimo comentário - o financiamento, previsto para o subsistema politécnico público, ascende a nada mais nada menos que, vejam lá, 8% do total - magnanimidade!

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Tem coisas que só contadas


IMAGEM: Paul Wenting ©
____________
1, 2, 3, 4, 5, 6,...#$&/$$»»##!....enganei-me outra vez!

Desde meados do mês passado, e até finais de Abril, andarei embrulhada em contagens...
Para quê? Perguntam-me, intrigados, os meus caros e raros leitores.
E eu sei?
Ando, a fazer uns Relatórios para aqui, uns "pauerpointes" lindos de morrer para ali, umas compilações bibliográficas para acolá...
Hoje calha-me a preparação de uma auditoria para isto, amanhã, é um diagnóstico para aquilo, depois de amanhã (na verdade, a 24 de Janeiro) são uns inspectores dos internacionais - mais exigentes e atarantados que os "GOE" da ASAE - que dizem "really" precisar de saber coisas que eu também gostaria muito de saber, mas que ...etc., etc.... os meus caros e raros leitores sabem bem como é...

Dito de outra maneira, acreditem-me, ando atarefadíssima com procedimentos e resultados, que se assemelham muito aos do "meu prezado amigo" Zé Mariano - esfalfo-me mesmo até à exaustão, à toa e para nada!

E, é assim que se vão passando e publicando informações que me interessam e fazem falta, e eu sem poder dar fé. Para o caso de lhes terem também passado ao lado, deixo-lhes os links:

OECD - Education at a Glance 2007
OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2007
OECD in Figures (2006-2007)

Realmente, meus amigos, tem coisas que é melhor serem (bem) contadas do que vistas, é o caso de bênçãos, de transumância de ovelhas na hora do "rush", de inventários em geral e das nossas eventuais vivências na Educação, Ciência Tecnologia e Ensino Superior.

Agora, lá terei que regressar de novo, por mais uns dias, à clandestinidade das trincheiras, para fazer as contagens que me mandam, porque é assim mesmo a História do povo: manda quem pode e obedece quem tem juízo...